A sala principal do “Recanto” estava cheia. Formas de vida
variadas sentavam-se frente a mesas, conversando, rindo e convivendo. Numa
podiam-se ver dois globos tentaculares de Norbula Reinolds a namoriscar.
Noutra, uma carraça gigante de Fere agarrada a um copo, com ar pensativo. Na
extremidade da sala, perto do pianista que interpretava uma romântica valsa
sobre o envenenamento de pombos no parque, sentava-se um casal de seres
cinzentos e magricelas, com grandes cabeças e olhos que pareciam os faróis de um
autocarro. Estavam obviamente felizes. O Adepto aproximou-se deles.
“Então, jovens, como vão os primeiros dias de casamento?” disse ele “Ainda na lua-de-mel, hum? Olhem, ouvi dizer que estavam à procura de um sítio para guardar as tralhas que não podem levar no novo disco? Então isto talvez vos interesse.”
Pousou em cima da mesa um recorte de jornal:
http://www.dn.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=2336546
“Pois… pelos vistos naquele planeta aguado, jeitosinho, ali a meio caminho entre Júpiter e o Sol - vocês sabem, aquele pequenino a que chamam Terra e que está cheio de criaturas bípedes que julgam que mandam naquilo, coitadas - andam mais ralados com uma tal religião manhosa chamada “Economia & Finanças” do que com o futuro da espécie.
Não me perguntem, eu também não percebo o culto. Daquilo que ouvi dizer os sacerdotes dão a impressão que só correm de um lado para o outro, com as mãos no ar, a murmurar cálculos muito suspeitos, intercaladas por súbitos berros de “Crise! Crise!”, sem fazerem mais nada de útil… mas devo ser eu que não entendo, claro, de certeza que é tudo extremamente profundo e filosófico.
Só é pena que todos os outros que se preocupam com arte, ciência e o verdadeiro avançar da espécie deles estejam a ser completamente ignorados.
E ainda dizem que são formas de vida inteligentes…taditos…
Se me perguntarem, bem fazem vocês em lhes comer a cabeça toda com raptos aleatórios e desenhos malucos em campos de trigo no meio do nada, eles merecem.
Não é nada comigo, claro, mas ainda estou para ver o que é que vão fazer quando um dia lhes aparecer um calhau enorme no céu, como o que me caiu na cozinha ainda semana passada e deixou tudo numa confusão fumegante. (Ok, pelo lado positivo extinguiu um monte de lagartos gigantes que faziam lá ninho e se metiam em todos os cantos, é verdade, mas isso não me paga a despesa da remodelação, caramba.) Ou quando a casa já não lhes for tão confortável. Devem julgar que aquilo vai ser sempre bom para eles, os tolinhos. Até parece que não conhecem a história do planeta em que vivem. Extinções em massa é o que aquele menino faz melhor. Quando chegar a altura de sair, vai ser bonito, vai. Se calhar vão rezar à tal Economia, para ver se ela faz algo. Ou só então é que vão pensar que, muito provavelmente, deveriam ter continuado a olhar cá para cima, como sempre tinham feito, antes de começarem a olhar só para os pés e para os bolsos.
Bem, mas isto também não é importante…. sou eu a meter-me na vida alheia… só achei que podiam querer alugar o sitio…
E então, meninos, vai uma empadinha de Arthurus-5? Estão acabadas de sair do forno.”
“Então, jovens, como vão os primeiros dias de casamento?” disse ele “Ainda na lua-de-mel, hum? Olhem, ouvi dizer que estavam à procura de um sítio para guardar as tralhas que não podem levar no novo disco? Então isto talvez vos interesse.”
Pousou em cima da mesa um recorte de jornal:
http://www.dn.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=2336546
“Pois… pelos vistos naquele planeta aguado, jeitosinho, ali a meio caminho entre Júpiter e o Sol - vocês sabem, aquele pequenino a que chamam Terra e que está cheio de criaturas bípedes que julgam que mandam naquilo, coitadas - andam mais ralados com uma tal religião manhosa chamada “Economia & Finanças” do que com o futuro da espécie.
Não me perguntem, eu também não percebo o culto. Daquilo que ouvi dizer os sacerdotes dão a impressão que só correm de um lado para o outro, com as mãos no ar, a murmurar cálculos muito suspeitos, intercaladas por súbitos berros de “Crise! Crise!”, sem fazerem mais nada de útil… mas devo ser eu que não entendo, claro, de certeza que é tudo extremamente profundo e filosófico.
Só é pena que todos os outros que se preocupam com arte, ciência e o verdadeiro avançar da espécie deles estejam a ser completamente ignorados.
E ainda dizem que são formas de vida inteligentes…taditos…
Se me perguntarem, bem fazem vocês em lhes comer a cabeça toda com raptos aleatórios e desenhos malucos em campos de trigo no meio do nada, eles merecem.
Não é nada comigo, claro, mas ainda estou para ver o que é que vão fazer quando um dia lhes aparecer um calhau enorme no céu, como o que me caiu na cozinha ainda semana passada e deixou tudo numa confusão fumegante. (Ok, pelo lado positivo extinguiu um monte de lagartos gigantes que faziam lá ninho e se metiam em todos os cantos, é verdade, mas isso não me paga a despesa da remodelação, caramba.) Ou quando a casa já não lhes for tão confortável. Devem julgar que aquilo vai ser sempre bom para eles, os tolinhos. Até parece que não conhecem a história do planeta em que vivem. Extinções em massa é o que aquele menino faz melhor. Quando chegar a altura de sair, vai ser bonito, vai. Se calhar vão rezar à tal Economia, para ver se ela faz algo. Ou só então é que vão pensar que, muito provavelmente, deveriam ter continuado a olhar cá para cima, como sempre tinham feito, antes de começarem a olhar só para os pés e para os bolsos.
Bem, mas isto também não é importante…. sou eu a meter-me na vida alheia… só achei que podiam querer alugar o sitio…
E então, meninos, vai uma empadinha de Arthurus-5? Estão acabadas de sair do forno.”
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