domingo, 11 de março de 2012

Inspecção Vogon



O Adepto de Éris não estava nada à espera que um Vogon entrasse no seu estabelecimento.
Quando viu aquela massa amorfa, nojenta, viscosa, mal cheirosa e desagradável  sentar-se numa das mesas revirou os olhos. Sabia que tinha prometido servir qualquer ser que decidisse passar por ali…mas, francamente, deveria ter aberto uma excepção para aqueles…argh…burocratas. Mesmo assim, encheu-se de coragem e aproximou-se, havia que manter a calma.


“Bem vindo ao Recanto. O que vai desejar?”


O Vogon olhou para a ementa e começou a ler em voz alta os nomes dos pratos, um a um,
  de forma tão lenta e arrastada, que poderia ser facilmente ultrapassada por uma placa tectónica.
Ao fim de uns bons vinte minutos, durante os quais o Adepto foi forçado a ficar ali, a olhar para ele, sem fazer mais nada a não ser aguentar a vontade de vomitar, acabou a leitura e lançou:


“Não vou querer nada. Vim fazer uma inspecção.”


Essas palavras para o proprietário de qualquer estabelecimento galáctico, eram o equivalente a ser sentenciado à morte três vezes seguidas, de forma extremamente lenta e agonizante, com ressurreição pelo meio.
 

“Podemos começar por ver a documentação…”


“Não!”

O Vogon fez uma pausa e ajustou os óculos.



“Resistir é inútil. Sob pena de...um recital lírico em quatro partes.”



Era terrivel! Se aquela besta decidisse começar a recitar poesia…estava tudo acabado.



“Er… muito bem… eu vou buscar…”




“Em triplicado.”



“Mas eu só tenho um de cada…”



“Tem que os copiar á mão, então.”



“Á mão?”



“Sim, á mão. Mas antes de os entregar tem que os passar a computador. São as regras. Artigo 26, Capitulo 5, alínea d), linha 4 do Código Galactico de Restauração. ”



“Mas…”



“Não me dê problemas….só estou a fazer o meu trabalho…”


E, dito isto, grunhiu com prazer



Claro que estava apenas a "fazer o seu trabalho", mas como era um Vogon, tinha o maior dos gostos nisso.


O adepto foi tratar daquilo que o Inspector pedira.
Enquanto tratava da imensa papelada, não sabendo se sobreviveria, o único conforto que tinha era repetir, para si mesmo,  o conselho dado na capa do maior e mais completo repositório de conhecimento alguma vez escrito:

“Don’t Panic”.

O Adepto não conhecia o autor daquelas palavras, mas quem quer que fosse, certamente, não seria ninguém menos que genial.



De facto todo o Guia  o era.

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